O passado dia 26 de Abril faleceu Salamo Arouch.
Nascido em Grécia, Salamo Arouch foi campeão dos pesos médios nos Balcães, mas a sua carreira profissional viu-se truncada pela 2ª Guerra Mundial e a invasão alemã do seu fogar natal. Como milheiros doutros judeus gregos, ele e a sua família e amigos foram deportados a Auschwitz-Birkenau.
Obrigado a combater contra outros prissioneiros para entretenimento dos seus gardas názis, Arouch logrou sobreviver às câmaras de gas até ser trasladado a Bergen-Belsen em 1945. Ao final da guerra emigrou e presenciou in sítu a fundação do Estado de Israel em
Salomon Arouch –que eliminou o “n” final do seu nome e gostava de ser conhecido por Shlomo- nascera em Salônica no seio duma família de judeus sefardis. O seu pai ensinara-lhe a boxear, e em 1937, quando só contava 14 anos, fixo o seu debut na sua vila natal, venzendo ao seu rival por KO técnico.
Dotado dum estilo muito tradicional de golpes curtos e cruzados, em 1939 ostentava um récord de imbatibilidade com 24 vitórias por knock out. O seu veloz jogo de pés fixo-lhe merecedor do alcume de “O bailarim de ballet”, e antes do estalido da guerra era membro da equipa olímpica grega de boxeo.
Quando os alemães invadiram Grécia foi arrestado e, dado que era judeu, deportado com toda a sua família a Auschwitz o 15 de Março de 1943.
Todos os membros fimininos da sua família foram gaseados o mesmo dia em que chegaram a Auschwitz, assim como os rapazes e crianças. Junto com o seu pai e o seu irmão mais jovem, Arouch viu-se submetido a trabalhos forzados. Quando um oficial názi se inteirou de que aquele judeu fora boxeador, foi obrigado a combater em veladas que se organizavam no campo os mércores e domingos pela noite.
Estes combates a morte, amiúde precedidos de jogos malabares de ziganos e pelejas de cães, enfrontavam a púgeis judeus e ziganos presos em Auschwitz; eram obrigados a combater brutalmente entre eles, correndo-se fortes apostas entre os oficiais názis que asistiam ao improvisado ring.
O ganhador –para além de conservar a vida- obtia pão e sopa; o perdedor, se sobrevivira, era imediatamente executado e incinerado.
No seu segundo dia em Auschwitz, o primeiro combate de Arouch foi contra um judeu polaco, com um oficial názi fazendo as vezes de árbitro. Arouch deixou-no rapidamente KO. Vinte minutos depois mandou à lona a um gigantesco checo dum golpe no estómago. “Desplomou-se como um dromedário”, lembraria Arouch.
Durante os dois anos seguintes, Arouch pelejou duas ou três vezes à semana para solaz dos seus captores názis, sabedor de que uma só derrota suporia a sua sentença de morte. Graças à sua velozidade e jogo de pés, puido tumbar a todos os seus oponhentes, que às vezes o superavam em mais de
O seu mais difícil contrincante foi um judeu alemão chamado Klaus Silber, que tinha um récord na pre-guerra de 44-0, e que nunca perdera ao longo de mais de 100 combates. O seu combate foi o mais feroz e desputado que se lembra, e tras ele nunca mais volveram a ver a Silber com vida.
Na última etapa, Arouch foi exonerado do trabalho forzoso e ubicado numa oficina. Toda a sua família já fora assassinada para então. O seu pai fora executado tras cair enfermo e o seu jovem irmão recebera um tiro na nuca tras negar-se a extrair os dentes de oiro daqueles que eram gaseados.
Arouch logrou sobreviver a Auschwitz dois anos estabelecendo um récord de 208 vitórias por KO. Quando o campo foi finalmente libertado, perguntou às forças britânicas se tinham algum boxeador para combater contra eles numa exibição. Havia dois, e Arouch os deixou KO a ambos.
Procurando pistas dalgum membro supervivente da sua família no campo de concentração de Bergen-Belsen, em Abril de 1945, Arouch conheceu a uma jovem de 17 anos chamada Marta Yechiel, que era da sua cidade natal. Tras casar ao ano seguinte, em 1948 emigraram a Israel, servindo nas IDF, onde continuou boxeando.
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